quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Soft Erotic Project



Ela era uma grande amiga. E ainda é, eu acho. Faz duas semanas que não a vejo e me sinto meio babaca por não ter ligado no dia seguinte. As vezes me pego pensando que o que aconteceu serviu como uma lição dolorida para nos aconselhar a não misturar as coisas, a daqui pra frente aprender a lidar com certas situações que nos aparecem como um elefante cor-de-rosa bem  no meio do eixão: bom, é estranho, mas é Brasília e em Brasília tudo pode acontecer. E tudo parece agora esquisitão depois do dia em que nós não fizemos amor.

Era bem tarde, já passava das duas da manhã, eu acho, quando meu telefone tocou. Estava saindo de um buteco com alguns amigos e ela dizia que precisava falar comigo. Ela morava em um apartamento no mesmo prédio que eu e quando fui ao seu encontro, ela já estava virando a chave. Nossos apartamentos não serviam como palcos do que ela queria dizer, muito pessoal, falou ela, cheio de coisas que nos lembram tantas outras coisas. E a gente saiu no jipe prata dela, perdidos na madrugada pela w3.

Tudo fechado. Tentamos até disfarçar com uma cerveja na frente do supermercado vinte e quatro horas mas ela tinha assunto pra virar a noite, e era sexta, então pra mim tudo bem. Sugeri que alugássemos um quarto de motel que, assim, poderíamos ver o dia nascer enquanto tomava uns bons drinks e ela vomitasse toda sua ira por não conseguir encontrar o fio da meada da monografia, suas tretas com a orientadora substituta e seu amor pequeno burguês com o professor de teoria crítica e história da arte. Péssima ideia. Percebi de cara assim que ela aceitou.

E tudo parece esquisitão depois do dia que nossos olhos se encontraram pra valer, semi nus na banheira de hidromassagem, falando de coisas sem sentido depois da septuagésima marguerita. Tanta coisa pra nos incomodar, nos intimidar - tinha esquecido de cortar as unhas do pé e você a parte de cima da lingerie - e a gente se acanhou só por que, depois de quase três anos, a gente enxergou dentro um do outro a peça chave que faltava em nossos quebra cabeças. E a gente riu.

Lá pelas cinco da manhã pagamos a conta de tudo isso que aconteceu e nos despedimos ainda na garagem do nosso prédio. Um abraço meio envergonhado e a gente caminhou, cada um para o seu lado, procurando as chaves e tendo a certeza de que tudo tinha mudado naquela noite. De qualquer forma, minha amiga, foi bom te conhecer.

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