Não sei por que sonho sempre com você. Você que passou da moda faz tanto tempo, você que eu nem vejo há sei lá quantos anos, você que eu faço um esforço do cacete pra esquecer. Muito menos o motivo de você aparecer tão doadora, puta por ter te deixado, chorando para, desta vez, eu ficar. Não sei. O expresso da saudade vem de longe soltando seu apito: tô chegando, tô chegando... e eu me pego com você em frente a uma feira discutindo Rimbaud ou dividindo o sofá com o John Lennon, todos nós, juntos, pra assistir Ana Maria Braga. Você sempre me olhando com estes olhinhos que eu conheci tão bem.
Você que nem liga mais, qual são as chances da gente se encontrar por aí de novo? Respiro mais fundo, fecho os olhos, tento dormir outra vez. Eu te comprei um presente. Espera, na verdade, fui eu quem fez este presente. Maneira boba de enganar o tempo, não deixar ser passado, tanto faz. Tento te puxar de volta e você não vem. Justamente agora que eu estava indo até bem com essa história de me apaixonar por você novamente.
Sonho: uma maneira que a gente descobriu pra se encontrar dormindo, mesmo quando júpiter não estiver em saturno que é, se você fizer as contas, o nosso tempo. E eu me deixo levar por que ninguém está vendo e dane-se o que vão pensar. Dois seres oníricos de carne e osso desestruturando a matéria. Dois bobos que morrem de vergonha de pegar o telefone e discar o número um do outro e dizer ei, essa noite eu tive um sonho tão estranho... Dois perdidos em uma situação maluca. O amor resolve. Só o amor. Não se iluda.
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