segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Casualmente na Biblioteca Nossos Olhos Se Encontraram.


Me lembro bem, você passeava e cuidadosamente percorria tudo com os olhos no volumoso corredor dos clássicos. Eu, desajeitado até a alma, procurava alguma coisa não lida entre os beats americanos quando, de repente, saquei um Bourroughs e você um Joyce, e nossos olhos se cruzaram no vão da prateleira pela primeira vez. Duas infinitudes paradas entre Junkie e Finnegans Wake tentando encontrar um equilíbrio entre a fábula, a cábula e todo o caos que havia em nós.

Aquele instante, infindável instante de lirismo e frenesi, de amores - literalmente - entregues ao pó e às traças, não durou, talvez, mais que alguns poucos segundos. Ainda vagueia pela memória a imagem de você sorrindo desapercebida de tudo aquilo que causou e sumindo (se perdendo?) dentro das histórias mais bonitas que alguém já escreveu. E eu nunca mais te vi.

Talvez esteja agora em Praga sendo Teresa. Talvez esteja, bravamente, lutando em Segóvia. Quem sabe até em Santiago lendo sobre os ombros de Neruda a sua canção desesperada. Não me admiraria encontrá-la em Manhattan de mãos dadas com o professor Kepesh ou no Rio vivendo como Bentinho. Minha única certeza é que, onde estiver, terá naqueles grandes olhos de jaboticaba madura o inconfundível brilho da descoberta.

Fico imaginando se algum dia ainda irei te encontrar por aí numa dessas bibliotecas da vida e faço planos de te chamar para um café só pra saber como termina O Retrato de Dorian Gray e confessar ao pé do seu ouvido que nunca faltou tempo de concluir a leitura, o que faltou foi vontade mesmo. Pra te ouvir falar como Borges é fantástico ou como são chatas essas trilogias vendidas nas Lojas Americanas. Te ver rir de tudo isso.

Quando voltar das suas maravilhosas aventuras faça o favor de me encontrar aqui, nesta poltrona de canto, o cara de blusa bege lendo Cem Anos de Solidão caso você não se lembre mais de mim, Mas venha mesmo. Quero muito saber como foi a viagem.




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