sexta-feira, 16 de março de 2012

Sofisticação Hard Core



Boa noite. Fica com Deus. Dá um abraço no Henrique por mim. Tudo bem se eu te ligar amanhã? E ela saiu do carro o mais lentamente que pôde, fechando a porta bem devagar e me olhando pelo vidro escuro. Eu nunca tinha percebido o tanto que ela ficava gostosinha de vestido rodado e jaqueta jeans. Já a tinha visto por outros ângulos, mas daquele, sorrindo um tchau constipado de namoradinha e exalando tesão por debaixo daqueles tecidos florais, era como se fosse um vem aqui, eu tenho aquele disco da Billy Holliday que você se amarra, quer subir pra tomar café? e isso não era tão normal pra ela que tinha acabado de sair da casa dos pais em Goianésia para vir morar em Brasília, pra ela que ia à igreja todos os domingos para disfarçar o fogo de menina do interior e expulsar os fantasmas de sua semântica torta. Que vontade de ir, de complementar essa chama com o meu isqueiro Bic e incendiar toda a W3, mas não. Tá tarde e depois fica difícil de achar um motorista de táxi corajoso pra me levar pra setenta quilômetros longe daqui. Fica um beijo de longe. Uma piscada e é claro que sim, pode me ligar, mas desta vez você é que vai pra Planaltina.
A noite foi linda, a gente combinou com antecedencia para dar tempo de reservar uma mesa naquele restaurante legal que só vai quem está verdadeiramente afim de olhar nos olhos de alguém. Tempo de juntar a grana pra pagar aquele absurdo de conta. De ir no cinema, de rir do filme, de andar sob a luz dos postes da 308 sul, tempo de parafrasear Nando Reis e dizer que você é mesmo tudo aquilo que me faltava. Teve vinho, teve risada, teve soco na cara daquele idiota que insistia em olhar pros pelos loirinhos da sua coxa ( Tudo bem, quem levou fui eu que insisti em peitar aquele troglodita de filme na Rota 66 ), teve beijo ao som de Let it Be, teve nós e nós estivemos ali, com vontade de quero mais. Me liga mesmo. Amanhã eu quero te ver. Pode deixar que eu mando o abraço.

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