sexta-feira, 4 de maio de 2012

Ó lá.



Até aqui tudo bem - dizia ela em seu momento mais íntimo. Até aqui dá pra aguentar você vir com esse sorriso bobo de quem acha que tá tudo bem. Mas não está. Deitada na rede da varanda ela conversava sózinha. O lábio superior engolindo o inferior. Balança pra cá, balança pra lá. Eu só queria estar ali, de vez em quando, sendo tudo o que ela precisasse. Kiko, vem aqui, vem ver como aquele passarinho insiste em pousar na caixa d'água.

Eu só queria aprender como são belas as pequenas coisas. Amor, o que que tem atrás daquele muro? Ela confiava tanto em si mesma que as vezes se confessava os segredos mais absurdos. Não sei, ela dizia. Não sei.

Não sei até quando - ela pensava e ria em silêncio. O passarinho caiu e se molhou. Kiko, busca a escada no corredor, rápido! Toda tarde de sábado a gente sentava pra coversar. Nada de política, nada de agora, nada pra sempre. Depois sexo, religiosamente, antes de nos deitar. Acho que ele vai sobreviver, bota ele no sol que as penas vão secar. Alguém te ligava, você ria. Amor, vamos pra Planaltina.

Acho que acabou. Me chuta pra fora como um cachorro indolente. Esquece do eterno. Esquece. Tudo permanecerá numa canção de amor. Ainda não posso dizer que te esqueci. Até qualquer dia. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário