segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Intrépido passado.



Recentemente adicionei uma amiga dos tempos de escola no facebook. Abro aspas para o tempo que não a via e, de primeira vista, ela parecia mais alta, mais bonita e muito mais evoluída do que nos anos que passamos juntos resolvendo equações de geometria II. Uma quase ruiva de cabelos presos por um lenço azul e uma vontade imensa de reencontrar as pequenezas da juventude perdidas em algum lugar do tempo. Encurtando, ela solicitou e eu apenas aceitei.

Pouco tempo após essa investida do passado bater em minha porta virtual numa terça feira a tarde eu publiquei em meu perfil um link que dizia em palavras clichês que eu havia postado uma nova poesia no meu blog. Acho até meio careta ficar mostrando isso pra todo mundo por que parece uma espécie de mendicância de um abraço, mesmo que a distância, um apelo sentimental por um comentário ou coisa que o valha mas, na verdade, essa é realmente a intenção. Sou solitário e carente, algum problema? O lance é que ela curtiu. Curtiu como todas as pessoas curtem; olhando com um certo desdém e clicando em tudo que vê pela frente.

A coisa mais engraçada foi que ontem, lá pelas tantas, sentado numa mesa de boteco alguém bate no meu ombro. Quando eu virei e vi aquelas coxas que foram a felicidade de toda a turma do segundo ano do ensino médio, fiz uma carinha de oi, tudo bem, quanto tempo, né? e a abracei timidamente convidando-a pra sentar comigo e talvez até dividir uma cerveja. Sim, ela estava ainda muito mais bonita e interessante do que aquele corpo de ninfeta que a fez ser meu sonho de consumo por tanto tempo. Conversamos e conversamos e conversamos sem que eu tirasse meus olhos inquisidores daqueles olhos que se rendiam sem nada lutar.

Daí que ela solta a frase mais intrépida da noite: não posso acreditar que um cara que escreve tão bem foi meu colega de infância e mora bem ali. Não tive outra opção a não ser retrucar com a mesma loucura: eu que não posso acreditar que você mora bem ali e foi minha colega de infância. Deste momento em diante o que era pra ser um encontro e talvez um sexo after bar tomou uma proporção de uma discussão digna de internação. Ela, muito curiosa sobre os meus dotes literários, continuou: e os seus sonhos, como são? Pensei puta que o pariu, meus sonhos? E fui sincero: eu sonho cor de rosa e quase sempre eles terminam com um porquinho vomitando o arco íris.

Da noite com uma gata como aquela me sobrou apenas a conclusão de que as pessoas acreditam que poetas são como dragões e, tal como, elas vão te perseguir como se você fosse o último deles. Te cercarão sem dó nem piedade, balançarão seus cabelos de fogo e te queimarão numa fogueira de perguntas estúpidas sobre o amor e coisas do tipo. E fui embora. Ela ficou lá conversando com o garçom - que não escrevia nada mas era bem mais bonito do que eu. 

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