segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Dar-te.

Por todas as formas, cores e sorrisos que já provei - um azul mais brilhante, um vermelho quase ausente e algumas outras geometrias - eu deveria ter mesmo te encontrado aquela noite. Aquela noite que subia e você, com seu diadema de estrelas, me apareceu como aparecem flores no asfalto e me perguntou se eu queria beber alguma coisa. De toda aquela beleza delicada que se doava em algumas palavras eu só percebia aquilo que eu queria e continuo querendo ver: duas forças completamente antagônicas se atracando no mais belo espetáculo que se pode observar numa mulher: a austeridade e a altivez. Linda. Bom, eu quero dois chopes e uma porção de alguma coisa.

E se hoje me vejo ausente de mim, nesta história de abnegação, de deixar de ser você para ser o outro, não foi por pura displicência da minha parte. Eu acredito que amor é muito mais do que paixão; pra mim ele é compaixão. É sentir como se sente aquela outra pessoa. Um desapego voluntário de quem quer ver o outro bem. Sem mais. Eu gosto de você como uma criança passa a gostar de um passarinho e quer tê-lo sempre livre.

Assim, nessa loucura de pensamentos, eu fui me deixando por vontade, me entregando às verdades daquele balcão, entre as garrafas de muitas cores, entre os amigos de poucos amores, fazendo música da matéria prima que eu passei a chamar de solidão a dois. Da esperança cega de vê-la em meus braços, da delícia de desejá-la em liberdade e de tudo aquilo que eu sempre acreditei de coração. Fui todo seu por necessidade, até.

Agora eu vivo esperando aquele esmalte café com rebú me trazer de novo a alegria, contando os segundos pra poder me jogar neste infinito de sonhos que são seus olhos negros. Esperando aquela conversa de balcão que me embriaga mais que vodka. Já não sei quando volto. Mas volto.

Nenhum comentário:

Postar um comentário