Ela olhava pra ele dez, vinte, cem vezes por dia. Tinha
arrepios só de pensar que, de repente, ele pudesse dizer em uma só palavra tudo
aquilo que ela não queria ouvir. Pensava nele atendendo o telefone às três e
meia da manhã, a voz de sono, falando que acabou. E sóbrio. Porque quando
bêbadas, as pessoas sempre tem o direito de se enganar e seria completamente
compreensível no dia seguinte ele se arrepender e pedir mil desculpas por
aquela noite de embriaguez.
Mas acabou. Acabou, moça. Pra sempre. Todo aquele sono
perdido foi por nada. Na verdade, é bem provável que nem tenha começado e os
pés juntinhos debaixo do cobertor tenham sido somente algum delírio tropical.
Nunca aconteceu, nunca foram ao parque de mãos dadas, nunca assistiram Satyricon
e jamais sujaram o sofá com sorvete de flocos. Sua vida foi construída na tela
do computador.
Talvez se ela tivesse coragem de pegar o telefone dele com
aquela amiga do trabalho, talvez se esbarrasse com ele nas Lojas Americanas ou
até mesmo mandado uma mensagem no Facebook, o mesmo Facebook que foi palco dos
melhores sonhos da sua vida, ele pudesse dizer que também sentia o mesmo, que
também já imprimiu uma foto sua e a colocou, despretensiosamente, debaixo do
travesseiro, que a amava, assim, de longe. Mas não.
Acabou. Acabou, moço. Acabou quando ela pediu um mojito uma
noite dessas e ele veio totalmente despido da saudade que insistia em provocar.
Quando, de uma vez por todas, o excluiu de todas as redes sociais, de todos os planos
e arrepios. Não foi por ninguém em especial, ela ainda admite que encontrar
outro como ele vai ser bem difícil, foi por que foi. Como tem que ser.
É possível que ele nunca vá perceber a ausência daqueles
olhos vidrados na sua foto de formatura e que aqueles olhinhos caramelos não
vão mais chorar por ele. No mais, ele vai continuar publicando sua vocação pra
sedutor com a mesma aptidão de sempre, só que agora com menos uma curtida. Por
que agora, moço, ela está feliz e não há frase do Caio Fernando Abreu que a
faça voltar atrás.
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